Noite de emoções à flor da pele num Pavilhão Atlântico a meia lotação: quem sabe, se isto não tem a ver com a crise.
A banda de Bill Kaulitz regressou à sala de espectáculos onde há dois anos deixou muitos fãs desconsolados com um cancelamento de última hora (a compensação chegaria alguns meses depois).
Por imposição dos Tokio Hotel, não foi possível à BLITZ captar imagens do público durante o concerto e as fotografias da actuação tiveram de ser aprovadas pelo management da banda.
Desta vez tudo foi menos, quando comparando com as outras actuações da banda em Portugal: a histeria foi menor, o público compareceu em menor número (o palco estava montado praticamente a meio da sala e mesmo assim era muito o espaço livre e muitos os lugares vazios nas bancadas) e (pasme-se) a BLITZ não vislumbrou uma única lágrima no final da actuação.
Antes de as luzes se apagarem e a gritaria ensurdecedora começar (reveladora, pelo tom agudo, da juventude que se encontrava em larga maioria no Pavilhão Atlântico) já estava tudo a postos. Alguns dos pais sentados ao lado dos seus rebentos (uns mesmo muito novos) tinham ar de enfado estampado na cara, outros tentavam esforçar-se por entrar na onda dos filhos, prontos para soltar a energia acumulada durante o tempo de espera. Telemóveis a postos, vozes esganiçadas a postos e cai finalmente o pano preto que separava o palco dos olhares ansiosos.
O cenário é majestoso, isso ninguém lhes tira: a banda surge de dentro de uma armação de ferro em forma de ovo gigante e nasce para atacar logo no início o tema "Noise", faixa que abre também o mais recente álbum Humanoid com letra repleta de lugares-comuns fáceis de decorar e cantarolar. Os abraços de excitação, os telemóveis a filmar e a fotografar, tudo chega ao rubro quando o vocalista Bill Kaulitz entra em acção.
A figura cada vez mais andrógina do cantor, algures entre o glam de Ziggy Stardust e uma Lady GaGa desengonçada que em certos momentos parece ter encarnado em Ana Malhoa, continua a deixar as meninas (e alguns meninos - afinal desta vez nem eram poucos) fora de si. Ele corre o palco de lés a lés e lá vai debitando agradecimentos bem estudados e servidos num inglês algo trapalhão. A actuação prossegue com "Human Connect to Human", com ambientes urbanos nocturnos em movimento no ecrã gigante que fundeia o palco, e recua depois ao álbum de estreia, Scream , num "Break Away" a pender para o pesado.
"Quero dar-lhes as boas vindas à cidade Humanoid" atira Kaulitz para o público antes de servir o gingão "Pain of Love" e o mais recente (e baladeiro) single "World Behind My Wall", recebido com entusiasmo. Entre mudanças de fatiotas e saídas de palco para entreter o público com vídeos de backstage "fofinhos", há surpresas reservadas: explosões de fogo em "Hey You", falsete mal amanhado mas sentido em "Alien", a loucura de "Ready, Set, Go!" e Bill montado numa mota em "Dogs Unleashed".
"Humanoid" é servido em registo intimista, com direito a guitarra acústica, e a monotonia instala-se pelo menos até o "intimista" "In Your Shadow (I Can Shine)" passar a vez a "Automatic", single que apresentou Humanoid ao mundo e que volta a ser alvo de histeria generalizada. Depois de "Darkside of the Sun", Kaulitz despede-se com uma vénia e um beijinho: "É a última canção. Obrigado por terem vindo, vemo-nos para a próxima". Mas é claro que ninguém o ia deixar escapar tão facilmente e o encore exige-se com gritos de "Tokio Hotel, Tokio Hotel".
No centro do palco, o vocalista canta acompanhado ao piano "Zoom Into Me", tema que encerra Humanoid , mas havia ainda tempo para o momento mais aguardado da noite. "Monsoon", a canção que a banda canta "desde 2005, todas as noites", é servida em modo automático, quase apagada pelo coro infantil do Pavilhão Atlântico. Parecia ser o fim, com a banda a despejar as últimas garrafas de água para cima das primeiras filas e a atirar baquetas, toalhas e palhetas em todas as direcções, mas havia ainda tempo para uma última surpresa: choveram confettis ao som de "Forever Now", antes de a banda desaparecer novamente dentro do ovo gigante. Haverá mais para o ano ou depois, quem sabe, mas a avaliar pela sala pouco composta desta noite talvez a escolha de local deva ser reavaliada


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